Logótipo

Logótipo

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

 

POESIA PALACIANA

GARCIA DE RESENDE

https://www.google.com/search?q=garcia+de+resende

 

    (linguagem arcaica)

Senhoras não hajais medo
não receeis fazer bem
tende o coração mui quedo
e vossas mercês virão cedo
quão grandes bens do bem vem.
Não torvem vosso sentido
as cousas qu'haveis ouvido
porquê lei de deos d'amor
bem, vertude nem primor
nunca jamais ser perdido.

Por verdes o galardão
que do amor recebeu
porque por ele morreu
nestas trovas saberão
o que ganhou ou perdeu.
Não perdeu senão a vida
que pudera ser perdida
sem na ninguém conhecer
e ganhou por bem querer
ser sua morte tão sentida.

Ganhou mais que sendo dantes
nom mais que fermosa dama
serem seus filhos ifantes
seus amores abastantes
de deixarem tanta fama.
Outra mor honra direi:
como o príncipe foi rei
sem tardar mas mui asinha
a fez aloar por rainha
sendo morta o fez por lei.

Os principais reis d'Espanha
de Portugal e Castela
e emperador d'Alemanha
olhai que honra tamanha
que todos decendem dela.
Rei de Nápoles também
duque de Bregonha a quem
todo França medo havia
e em campo el rei vencia
todos estes dela vem.

Por verdes como vingou
a morte que lh'ordenaram
como foi rei trabalhou
e fez tanto que tomou
aqueles que a mataram.
A um fez espedaar
e o outro fez tirar
por detrás o coração
pois amor do galardão
não deixe ninguém d'amar.

Cabo

Em todos seus testamentos
a declarou por mulher
e por s'isto melhor crer
fez dous ricos moimentos
em qu'ambos vereis jazer:
rei, rainha coroados
mui juntos não apartados
no cruzeiro d'Alcobaça
quem puder fazer bem faça
pois por bem se deu tais grados.

(Excerto)

Garcia de Resende, in 'Cancioneiro Geral de Garcia de Resende'

https://www.google.com/search?q=garcia+de+resende+cancioneiro+geral



CANCIONEIRO GERAL

A poesia produzida na época do humanismo (século XIV) nas cortes de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel, foi compilada (recolhida) por Garcia de Resende, na obra Cancioneiro Geral, impresso em 1516, quando a tipografia era muito recente em Portugal. Ressalte-se que não se trata de um códice, de uma coleção de cópias manuscritas, como o Cancioneiro da Ajuda, mas de um livro impresso, contendo 880 composições, de 286 poetas, escrito em espanhol e em português, já revelando influência erudita. Aí é evidente a feição nova da poesia castelhana, mais perto do “dulce stil nuovo” de Florença, do que da corte de Afonso III e de D. Dinis, seu filho.

No Cancioneiro Geral encontram-se produções poéticas de Gil Vicente, Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro, D. Pedro (Condestável de Portugal), Jorge de Aguiar, Diogo Brandão, além do próprio Garcia de Resende.

A maioria das composições do Cancioneiro Geral destinava-se aos serões do paço, onde se recitava, disputavam concursos poéticos, ouviam música, galanteavam, jogavam, realizavam pequenos espetáculos de alegorias ou paródias. Tudo isso feito pelos nobres, tendia a apurar-se, os vestuários, os gestos, os penteados e a linguagem mantendo forte influência da corte.


Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/cancioneiro_gera/









Sem comentários: