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quinta-feira, 14 de abril de 2016

POETAS


Nascimento19 de setembro de 1935, Torrão
Falecimento13 de outubro de 2004, Lisboa
MARIA ROSA COLAÇO

E com um búzio nos olhos claros Vinham do cais, da outra margem Vinham do campo e da cidade Qual a canção? Qual a viagem?

Vinham p’rá escola. Que desejavam?De face suja, iluminada?Traziam sonhos e pesadelos.Eram a noite e a madrugada.

Vinham sozinhos com o seu destino.Ali chegavam. Ali estavam.Eram já velhos? Eram meninos?Vinham p’rá escola. O que esperavam?

Vinham de longe. Vinham sozinhos.Lá da planície. Lá da cidade.Das casas pobres. Dos bairros tristes.Vinham p’rá escola: a novidade.

E com uma estrela na mão direita. E os olhos grandes e voz macia. Ali chegaram para aprender. O sonho a vida a poesia.









FLORBELA ESPANCA

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

 Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!                                       

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...             Nascimento: 08-12-1894, Vila Viçosa
                                                                   Falecimento: 08-12-1930, Matosinhos
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

     Florbela Espanca




SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN



Noite de Abril
Nascimento: 06-11-1919, Porto
Falecimento: 02-07-2004, Lisboa

Hoje, noite de Abril, sem lua, 
A minha rua 
É outra rua.
                                                                       
Talvez por ser mais que nenhuma escura
E bailar o vento leste 
A noite de hoje veste 
As coisas conhecidas de aventura.

Uma rua nova destruiu as ruas do costume.
Como sempre nela houvesse este perfume
De vento leste e Primavera,
A sombra dos muros espera 
Alguém que ela conhece.

E às vezes, o silêncio estremece
Como se fosse a hora de passar alguém
Que só hoje não vem.

                     in Poesia 1944



Nascimento: 13-09-1923 , Ponta Delgada
Falecimento: 16-03-1993 , Lisboa
NATÁLIA CORREIA


Fiz um conto para me embalar

Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.
                                                                 
Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.

Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.

                   Natália Correia