Nascimento: 19 de setembro de 1935, Torrão
Falecimento: 13 de outubro de 2004, Lisboa
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MARIA ROSA COLAÇO
E com um búzio nos olhos claros Vinham do cais, da outra margem Vinham do campo e da cidade Qual a canção? Qual a viagem?
Vinham p’rá escola. Que desejavam?De face suja, iluminada?Traziam sonhos e pesadelos.Eram a noite e a madrugada.
Vinham sozinhos com o seu destino.Ali chegavam. Ali estavam.Eram já velhos? Eram meninos?Vinham p’rá escola. O que esperavam?
Vinham de longe. Vinham sozinhos.Lá da planície. Lá da cidade.Das casas pobres. Dos bairros tristes.Vinham p’rá escola: a novidade.
E com uma estrela na mão direita. E os olhos grandes e voz macia. Ali chegaram para aprender. O sonho a vida a poesia.
FLORBELA ESPANCA
Charneca em Flor
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade... Nascimento: 08-12-1894, Vila Viçosa
Falecimento: 08-12-1930, Matosinhos
Falecimento: 08-12-1930, Matosinhos
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
Florbela Espanca
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Noite de Abril
Nascimento: 06-11-1919, Porto Falecimento: 02-07-2004, Lisboa |
Hoje, noite de Abril, sem lua,
A minha rua
É outra rua.
Talvez por ser mais que nenhuma escura
E bailar o vento leste
A noite de hoje veste
As coisas conhecidas de aventura.
Uma rua nova destruiu as ruas do costume.
Como sempre nela houvesse este perfume
De vento leste e Primavera,
A sombra dos muros espera
Alguém que ela conhece.
E às vezes, o silêncio estremece
Como se fosse a hora de passar alguém
Que só hoje não vem.
in Poesia 1944
Fiz um conto para me embalar
Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.
Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.
Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.
Natália Correia
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